As 10 mulheres que marcaram a história da literatura
Última parte!!!
Nossa! Essa postagem completa deu muito trabalho! Horas e horas de leituras, estudos e pesquisas...Bom, vamos lá!
Adélia
Prado
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
Esta espécie ainda envergonhada.
Sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
Acho o Rio de Janeiro uma beleza e
Ora sim, ora não, creio em parto sem
dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a
sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
(dor não é amargura).
Minha tristeza não tem pedigree,
Já a minha vontade de alegria,
Sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra
homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Na prosa e na poesia de Adélia podemos
encontrar assuntos relacionados à religiosidade e a vida cotidiana feminina. Sobre
sua criação literária ela diz o seguinte: "Alguns personagens de poemas são
vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema,
nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real?
Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha
mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português."
Essa citação me faz lembrar as palavras de Afrânio Coutinho quando diz que “a
literatura é a transfiguração do real”. A realidade recriada através da imaginação, inspiração e dos sentidos do artista. É dessa forma que Adélia nos faz sentir-se diante de um espelho!
Clarice
Lispector
Quando penso na Clarice as
primeiras palavras que surgem em minha mente são: genialidade, complexidade,
intensidade e excentricidade. Ela é incrível! Suas obras fazem uma sondagem
psicológica para tratar o interno do ser humano e questões existenciais relacionadas
à angústia. É impossível falar de Clarice sem citar o termo Epifania. “O termo
Epifania não aparece em sua obra, mas sua presença pode ser notada pela
atmosfera criada pelas escolhas lexicais como: “crise”, “inferno”,
“assassinato”, “náusea”, “nojo” etc. Ou seja, são pontos de ruptura do sujeito
com o cotidiano através de uma função reveladora.
Trecho do Conto Amor
“O que chamava de crise viera afinal. E sua marca
era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O
calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas.
Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as
grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles
mergulhara o mundo em escura sofreguidão. (...) Ela apaziguara tão bem a vida,
cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena
compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas
para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito
de modo a que um dia se seguisse ao outro”.
(...)
“Não havia como fugir. Os dias que ela forjara
haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não
havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade,
não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver”.
Obrigada pela participação e pelo carinho de todos!
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
Esta espécie ainda envergonhada.
Sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
Acho o Rio de Janeiro uma beleza e
Ora sim, ora não, creio em parto sem
dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a
sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
(dor não é amargura).
Minha tristeza não tem pedigree,
Já a minha vontade de alegria,
Sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra
homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Na prosa e na poesia de Adélia podemos
encontrar assuntos relacionados à religiosidade e a vida cotidiana feminina. Sobre
sua criação literária ela diz o seguinte: "Alguns personagens de poemas são
vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema,
nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real?
Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha
mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português."
Essa citação me faz lembrar as palavras de Afrânio Coutinho quando diz que “a
literatura é a transfiguração do real”. A realidade recriada através da imaginação, inspiração e dos sentidos do artista. É dessa forma que Adélia nos faz sentir-se diante de um espelho!
Clarice
Lispector
Quando penso na Clarice as
primeiras palavras que surgem em minha mente são: genialidade, complexidade,
intensidade e excentricidade. Ela é incrível! Suas obras fazem uma sondagem
psicológica para tratar o interno do ser humano e questões existenciais relacionadas
à angústia. É impossível falar de Clarice sem citar o termo Epifania. “O termo
Epifania não aparece em sua obra, mas sua presença pode ser notada pela
atmosfera criada pelas escolhas lexicais como: “crise”, “inferno”,
“assassinato”, “náusea”, “nojo” etc. Ou seja, são pontos de ruptura do sujeito
com o cotidiano através de uma função reveladora.
Trecho do Conto Amor
“O que chamava de crise viera afinal. E sua marca
era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O
calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas.
Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as
grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles
mergulhara o mundo em escura sofreguidão. (...) Ela apaziguara tão bem a vida,
cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena
compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas
para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito
de modo a que um dia se seguisse ao outro”.
(...)
“Não havia como fugir. Os dias que ela forjara
haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não
havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade,
não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver”.
Obrigada pela participação e pelo carinho de todos!