O tempo, a sinestesia e o fator histórico em Benjamim de Chico Buarque

A narrativa criada por Buarque é dividida entre
o ato de narra e o visual. A personagem que era um ex-modelo fotográfico
adquire na adolescência uma “câmera invisível” para registra seus acontecimentos
e posteriormente usá-los para recuperar suas lembranças. Sua narrativa é construída
com imagens, apesar de não depender apenas delas. Essa formar de escrever combinando
dois sentidos nos remete a sinestesia, figura de estilo que reuni sensações
distintas. O romance “gira” em torno da temática Tempo, sendo abordado através
da representação da Pedra do Elefante, da rotina da personagem Ariela Masé e da
desordem cronológica vivida por Benjamim.
Primeiro Benjamim faz uma comparação entre o
tempo de vida de um ser humano com a existência da Pedra: “Benjamim estava
certo de que, por mais que vivesse, jamais detectaria a mínima transformação na
Pedra, pois no relógio das pedras a longevidade humana não conta um segundo”. (p.53).
Ao longo dos tempos, a “Pedra” presenciou várias civilizações e Benjamim prefere viver de frente para ela ao invés de olhar a sociedade. Já a personagem Ariela
Masé, não precisa de relógio por ter noção exata das horas. Porém, no dia em
que ela usa um relógio de pulso e resolve tomar um caminho diferente, tudo foge
do seu controle: “o relógio mental de Ariela soltou-se o tempo: em sua
engrenagem teria se quebrado alguma peça, talvez a ruela chamada rotina” (p.
122). Sabemos que a rotina nos faz ordenar o nosso tempo, isso acontece porque
os nossos sentidos se adaptam a força do hábito. E por fim, Benjamim busca no
presente o resgate do passado através da personagem Ariela, além concluir que
por causa disso seu futuro pode estar preso ou como ele mesmo diz “amarrado”.

Referências
BUARQUE, Chico. Benjamim. São Paulo: Companhia
das Letras,2004.
PIRES, Orlando. Manual de Teoria e Técnica Literária. Rio de Janeiro, Presença, 1981, p. 103.
Horácio, Arte Poética. Lisboa, 1984.
Estudo concluído por Priscila no dia: 04/05/13
para apresentação de seminário na disciplina Literatura Brasileira Contemporânea.
Um excelente e profundo estudo. Tal que, a vontade de ler já toma conta do meu ser.
ResponderExcluirParabéns pelo belo prefácio.
Carlos
Obrigada Tio Carlinho!!
ExcluirFalando em temporalidade, seu estudo fez-me voltar a 1995, quando recebemos com a ansiedade peculiar de quem espera o próximo, esse romance do Chico. Sobre o romance em si, talvez nem mesmo com uma releitura hoje eu poderia comentá-lo melhor que voce, então falo daqueles tempos, em que a arte e a intectualidade haviam perdido seu eixo de um período, uma era, uma (muitas) vida, que foi a ditadura. Poucos conseguiram produzir algo com o estilo e a profundidade que exigem a grande arte, e Chico foi destaque entre estes poucos, ao mudar sua forma de expressão, sem mudar a qualidade e pertinência de sua obra. Parabéns por trazê-la à tona novamente.
ResponderExcluirCarlos
Obrigada Carlos Moraes, eu realmente adorei a leitura do livro Benjamin. O bom de ser da área das Letras é que eu posso estudar muito sobre assuntos afins. E paralelo aos meus estudos linguísticos, literários e gramaticais, eu sempre estudo sobre a história, sociologia, filosofia e geografia. Isso acaba me ajudando nas análises literárias. Valeu pelo comentário!
ExcluirMuito interessante sua postagem Pri. Confesso que depois de lê-la fiquei com uma baita vontade de ter em mãos esse livro! Através da análise, ou melhor,da parte em que vc retrata o tempo, quando você diz: "novamente o tempo fica em evidência. Passado, presente e futuro misturam-se mostrando a única certeza humana, a morte", pude remeter este tempo à noção heideggeriana do ser em relação ao próprio tempo, vista de uma perspectiva mais existencial. Pode ser que esteja enganada, mas quem sabe de repente não poderíamos tratar futuramente desta hipótese. Na dúvida, só lendo o "Benjamin" para confirmar. No mais, seu texto está ótimo, parabéns!
ResponderExcluirObrigada Jennifer! Adorei a tua ideia sobre o tempo dentro de uma abordagem existencial. Benjamim foi uma leitura que despertou um sentimento diferente em mim...aprendi a gostar do livro lentamente...e no decorrer da leitura, quando fui assimilando com as questões que o professor Neres tanto nos fala em sala de aula, eu passei a ficar mais curiosa com o processo e acabei me surpreendendo. Beijos!
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